terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O Deus Criador e o Mundo Criado: Criados para Cultivar e Admirar

Série: O Discipulado Cristão
Rev. Gustavo L. Castello Branco
Se o homem não tivesse pecado ainda assim teria que trabalhar? O trabalho é uma consequência do pecado? O que dizer sobre o descanso e o lazer? Eles são obrigatórios segundo a Palavra de Deus ou um prêmio para quem cumpre com as suas obrigações?A construção de cidades, a invenção de remédios, o desenvolvimento de tecnologias modernas, das ciências e das filosofias podem ser entendidas como vontade de Deus ou devem ser encaradas como resultado da ação pecaminosa humana? Cristãos podem ser progressistas ou devem ser conservadores?

Essas são perguntas que todos os cristãos devem saber respondê-las e por isso vamos tratar delas nesse estudo. A forma como vamos encarar o mundo ao nosso redor e a vida em geral dependerão das nossas respostas a essas mesmas perguntas. Elas tratam da vontade de Deus para as nossas vidas, ou seja, elas nos ajudam a entender o sentido da nossa existência. Por que e para que vivemos? É disso que vamos falar hoje. E vamos começar dizendo que Deus nos fez para “REINAR COMO MORDOMOS

1. O Reinado do Homem: Feitos para a Mordomia (Gn.2:4-5)

Quais as duas razões pelas quais não haviam nascido ainda as plantas? Podemos dizer que Deus precisava do homem para que as plantas nascecem e crescecem?

A Bíblia deixa claro que um dos propósitos de Deus em nos criar foi nos fazer seus mordomos, quer dizer, nos criou para que cuidássemos de sua criação, sendo participantes com Ele nessa tarefa. Deus desde o início nos chama para trabalharmos junto com Ele no mundo que Ele mesmo criou. Disso podemos tirar, pelo menos duas conclusões maravilhosas:
1º - O trabalho é algo santo, bom, proveitoso e que nos deveria dar prazer, ao invés de ser algo que temos que fazer na marra se quisermos sobreviver.
2º - Desde o início Deus decidiu delegar responsabilidades ao invés de fazer as coisas, sozinho. E isso não foi porque Ele precisava, mas porque Ele simplesmente quis dividir, compartilhar; quis que fôssemos participantes na obra de embelezar. Ele deu um sentido para as nossas vidas! (Gn. 2:15)

2. O Reinado do Homem: Feitos para Reinar

Acontece que o livro de Gênesis não nos apresenta só como mordomos, mas também como reis. Vejamos as ordens do Senhor para nós quando nos criou (Gn. 1:26, 28). “Fertilidade”, “multiplicação”, “subjugação”, “domínio sobre tudo”, “encher a terra”.
Olhando para essas expressões fica claro que o Senhor nos fez para governar toda a terra e para criar em cima daquilo que já tinha sido criado por Ele. Deus criou todas as coisas do nada (“ex nihilo”). Nós somos chamados a recriar, usando aquilo que já nos foi dado. É como dizemos: “Tudo vem de ti, Senhor e do que é teu te damos”.
As ordens multipliquem-se e encham a terra deixam claro que o Senhor nos fez para nos reproduzirmos, constituirmos uma família, formarmos comunidades, forjarmos sociedades. Mais do que isso, essas ordens deixam claro que o Senhor não gosta de imobilismo e de preguiça, nem de apego exagerado às pessoas e às coisas. Desde o início Ele nos chamou para nos espalharmos sobre a terra ao invés de ficarmos concentrados, acumulando riquezas, “inchando até explodir”... Isso é pecado! Deus gosta é da criatividade, da ousadia e do movimento.
As ordens de subjugação e de domínio deixam claro que Deus nos chamou para reinar ao seu lado sobre toda a natureza criada. Aqui vemos que as descobertas científicas, as evoluções tecnológicas, a modificação da natureza pelo homem não é necessariamente algo mau. O Senhor mesmo nos disse para dominar e subjugar e nos deu inteligência e vontade para tanto. O pecado é querermos fazer tudo isso independente dEle e de sua vontade revelada ou, o que é pior, fazermos “contra Ele”.
A ordem de fertilidade nos dá a idéia de que Deus nos criou para a prosperidade e para a abundância, mas sempre para a glória de seu nome. Essa ordem não tem haver só com a reprodução humana, mas com todas as áreas das nossas vidas. Devemos ser frutíferos (férteis) nos nossos estudos, nos nossos trabalhos, nas nossas brincadeiras, no nosso evangelismo, no nosso serviço aos outros... Deus não queria somente que cuidássemos de sua criação, mas também que a tornássemos ainda mais bela. Enfim, o Senhor nos criou não para fazermos ou sermos só o necessário, mas para “sermos em abundância” e “fazermos em abundância”. Se existe miséria, egoísmo, falta e mesquinharia no mundo, certamente a culpa não é de Deus...

Leia Mt.25:14-30 e responda: Por que, nessa parábola, Jesus condenou o servo que devolveu exatamente o que o Senhor tinha lhe dado? Por que esse servo foi chamado de inútil e considerado mau e negligente?

Até agora ficou claro que o Senhor nos fez para sermos “Reis-Mordomos” ou “Mordomos-Reis”, isto é, para que administrássemos tudo que Ele criou para a glorificação do seu santo nome. Fazendo isso segundo o plano de Deus, seríamos plenamente felizes. Entretanto, existe algo faltando para completarmos o nosso entendimento do plano de Deus para as nossas vidas. Esse algo encontra-se no famoso 7º dia (ou dia do descanso). Sem esse “grand finale” a criação estaria incompleta e nossas vidas não fariam sentido nenhum.

3. O Reinado do Homem: Mordomos feitos para Admirar (Gn.2:1-3)

É interessante percebermos que o 7º dia foi o último da criação, mas o primeiro na vida de Adão e Eva, ou seja, suas vidas começaram presenciando a admiração de Deus por sua criação. Que impacto isso deve ter tido na vida deles?
Scott Hahn, comentando sobre o “descanso” de Deus no 7º dia, escreveu: “O sétimo dia não significa a exaustão de Deus, mas a sua extrema beleza em convidar seus filhos para viverem dedicados ao propósito para o qual Ele nos criou: descansar na bênção e santidade de nosso Pai agora e por toda a eternidade”.
O Shabath significa que por mais importantes sejam todas as tarefas que o Senhor nos deu para desempenhar nessa vida, o sentido último de nossa existência não está em nenhuma das tarefas por si mesmas. O sentido último de nossas vidas está em viver com Deus e para Deus. O sentido último das nossas vidas é adoração. Em outras palavras, todo o nosso trabalho, estudo e diversão devem ser feitos como resposta de gratidão e louvor ao Senhor que nos criou. “Trabalho e adoração, portanto, foram criados para andar de mãos dadas” (Hahn 48).
A importância do 7º dia é tão grande que o Senhor incluiu na Lei que deu para o seu povo um dia para que nos lembrássemos dele (Ex. 20:8-11). Como diz ainda Scott Hahn: “O Shabath, portanto, serve para nos lembrar que a nossa realização requer algo mais do que possamos obter por nosso próprio trabalho natural ou na nossa vida terrena. Eis aí por que Israel tinha que guardar o Shabath. Para que pela renovação de sua aliança com seu Pai eles continuamente redescobrissem o quanto eles podiam confiar nEle para que providenciasse tudo que precisavam. Inclusive a força que era necessária para cumprir a sua Lei”.

4. Conclusão.

Através do 7º dia aprendemos que fomos feitos REIS-MORDOMOS criados para ADMIRAR a Deus e suas obras por toda a nossa vida! Durante essa semana pense no sentido da sua vida e pergunte ao Senhor em oração como Ele quer que você o sirva. Mesmo quando achamos que já sabemos, Ele tem sempre coisas novas para nos mostrar e novas missões para nos confiar. Amém

O Deus Criador e o Mundo Criado: Feitos à Sua Imagem e Semelhança

Série: O Discipulado Cristão
Rev. Gustavo L. Castello Branco

1 – Introdução.

Como certa vez escreveu o filósofo Aristóteles, “O que é último em execussão, é primeiro em intenção”. O homem e a mulher foram criados por último como coroação da obra que Deus fez. Isso significa que Deus criou o mundo para nós mesmos e que, desde o início da criação, o Senhor tinha a intenção de nos criar à sua “imagem e semelhança” para na terra habitar e, assim fazendo, vivermos felizes para a glória do seu nome.

II – Feitos a Imagem e Semelhança de Deus.

Mas... o que significa mesmo dizer que somos a imagem e semelhança de Deus? Em poucas palavras, significa que somos capazes de pensar racionalmente, que temos vontade própria para além dos nossos instintos e que temos uma peculiar capacidade de amar. Como afirma Scott Hahn, “Como seres humanos, nos encontramos em algum lugar entre os anjos e os animais, com corpos físicos e almas”. Porque temos um corpo somos capazes de nos relacionar diretamente com o mundo material que o Senhor criou, isto é, comer, dormir, sentir sensações como frio e calor, sentir prazer e dor. Porque temos uma alma somos capazes de amar, compreender o sentido do mundo ao nosso redor, nos entristecer, nos alegrar e nos relacionar significativamente.

Frequentemente as pessoas nos dão valor por nossa inteligência, por nosso dinheiro, por nossa posição social (status) ou outra qualidade. Muitas vezes nós mesmos nos avaliamos de acordo com esses critérios. De acordo com a revelação de que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança, esses julgamentos estão certos ou errados? Por que? De que depende o nosso valor?

III – Feitos Homem e Mulher (Gn. 1:27)

Quando Deus criou a raça humana, Ele, em sua infinita sabedoria, a fez em dois sexos, sem pedir opinião de ninguém. Da mesma forma que os seres humanos não decidiram como o mundo deveria ser, mas já o receberam pronto, belo e completo, assim também o Senhor determinou o sexo de cada um de nós. Portanto, isso não é uma questão de escolha, mas de recebimento. O fato de sermos homens ou mulheres é um presente gratuito e amoroso de Deus que devemos honrar e celebrar com alegria.
Mas por que o Senhor fez assim? É claro que é impossível entendermos completamente os mistérios das decisões de nosso Deus, mas parte da resposta tem haver com a sua própria natureza. Desde a eternidade o Senhor existe “em família”, como um Deus Trino, ou seja, um só Deus que existe em três pessoas em eterna relação de amor mútuo. Interessante que o versículo 26 do capítulo 1 de Gênesis é o único em que o verbo “fazer” aparece no plural, dando uma idéia de que houve um planejamento entre uma pluralidade de pessoas antecedendo o ato de criação, ou seja, uma conversa, uma combinação. Em outras palavras, Deus sempre existiu e sempre existirá em uma constante relação de amor. Por isso, ao fazer o ser humano à sua “imagem e semelhança”, Ele planejou que o mesmo estivesse também em constante relacionamento de amor. Por isso mesmo fez “homem” e “mulher”, como a base da sociedade.
Além do fato de que homem e mulher juntos refletem o próprio ser de Deus, outras verdades valiosas podem ser apreendidas com a forma que o Senhor criou Adão e Eva e com o que Ele ordenou para eles.

Leiamos Gn. 2:18-24

Gênesis 2:18 é o único versículo do relato da criação onde vemos que Deus achou algo que “não era bom” em sua criação. Por que Deus decidiu criar a mulher?
O que aconteceu antes do Senhor fazer com que o homem dormisse? O que aprendemos com a atitude de Adão?
Como Adão reagiu quando viu a mulher?
Outra coisa que aprendemos é que Deus criou princípios para o bom relacionamento de um casal e para o crescimento sadio da sociedade. Esses princípios são:
  • Deixar a casa dos pais (fisicamente, emocionalmente, financeiramente);
  • Formação de uma nova união entre um homem e uma mulher (envolve compartilhar de propósitos, amor, cumplicidade, companheirismo);
  • Relação Sexual – Longe de ser o “pecado original” a relação sexual foi criada e abençoada por Deus (Gn.1:28). Ela foi criada não só como meio de procriação, mas também como meio de recreação, expressão de amor e ato de profunda comunicação entre um homem e uma mulher. É definitivamente algo santo! Entretanto, nossa sexualidade deve ser cultivada dentro de uma relação de compromisso, amor e respeito mútuos.
IV – Considerações Finais.

Hoje estudamos a nossa natureza. Fomos feitos a imagem e semelhança do nosso Criador, portanto, com uma dignidade que não depende de nada além do próprio Criador. Vimos também que faz parte da nossa natureza e da vontade de Deus para nós que nos relacionemos uns com os outros; o Senhor criou dois sexos diferentes que juntos e vivendo em interação, refletem a natureza de Deus que é Trindade. No nosso próximo encontro concluiremos nosso estudo da criação de Deus, vendo a missão que o Senhor nos deu como raça humana que vive em seu Reino criado.