domingo, 12 de outubro de 2008

O Discipulado Cristão e a Metodologia de Jesus


© Copyright 2008. Rev. Gustavo L. Castello Branco. Série: O Discipulado Cristão. Concatedral Anglicana da Ressurreição, João Pessoa – PB – Diocese do Recife



Ao enviar os discípulos para fazer outros discípulos “de todas as nações”, Jesus já tinha dado o modelo do que está envolvido necessariamente em um processo de discipulado, isto é, da abordagem a ser utilizada, bem como dos objetivos a serem atingidos. Os apóstolos e primeiros cristãos captaram bem isso durante os 3 anos que conviveram com o Filho encarnado, e nós, hoje em dia, precisamos também entender essa metodologia se quisermos ser fiéis ao mandado de Deus em Cristo, seu Filho amado. É importante que aprendamos desde o começo que o discipulado cristão visa a transformação de mentes e envolve necessariamente três questões: 1 - Um processo de ensino-aprendizagem; 2 – O desenvolvimento de relacionamentos significativos; 3 – Uma prática missionária. Analisemos, então, cada um desses pontos.


1. O Ensino–Aprendizagem no Discipulado Cristão (Mt. 11:1; Mc.4:1; 6:2)


Jesus Cristo, antes de “entregar a sua vida em resgate de muitos”, esteve anunciando, por alguns anos, a chegada do reino de Deus e as verdades sobre a vida neste reino. Mateus, por exemplo, testifica que logo depois dos 40 dias de tentação no deserto “passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt. 4:17). Essa era a mensagem central de Jesus, ou seja, que uma nova era estava iniciando-se a partir dEle. Acontece que ao anunciar a chegada do reino de Deus, Jesus também falava dos valores desse reino e de como os seus súditos deveriam se comportar. Por isso em várias oportunidades Ele ensinava seus discípulos através de parábolas ou diretamente (Mt. 11:1, Mc. 4:1, Mc. 6:2).Fato é que com o surgimento do pecado e a nossa conseqüente quebra de comunhão com o Senhor, nossa capacidade de conhecer sua vontade e obedecê-la ficou completamente prejudicada. Nós não só herdamos a natureza pecadora (tendência natural e inerente para o pecado). Nossos ancestrais também criaram culturas, visões de mundo e ideologias que não glorificam a Deus e não correspondem ao seu plano para as nossas vidas. Como nós inevitavelmente nascemos e somos criados dentro de uma dessas culturas e segundo uma dessas visões de mundo, aprendemos a reproduzir o estilo de vida do “status quo”. Em outras palavras, vivemos como todo o resto do mundo, assumindo e reproduzindo os mesmos valores e prioridades. É por isso mesmo que nossas mentes e corações precisam ser “reprogramados”; é por isso que precisamos aprender novos padrões de comportamento e critérios de decisão e viver segundo estes; estamos sendo preparados para a vida no reino que vem dos céus e está sendo implantado aqui na terra, entre nós. Nesse reino não há lugar para imperfeições ou maldades, por isso Jesus nos chama para sermos seus discípulos. Certa vez o Senhor convidou: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mt.11:29). Isso é para mim e para você!

Quais são alguns dos valores e prioridades que fazem parte de nossa cultura, moldando a nossa visão de mundo, mas que não estão de acordo com a vontade do Senhor para as nossas vidas?

2. A Dimensão Relacional do Discipulado Cristão


Em seus três anos de efetivo ministério terreno Jesus formou uma pequena comunidade. Interessante é que Ele não escreveu nenhum livro como outros líderes religiosos o fizeram. Isso porque Ele mesmo era o livro vivo! Ele era a revelação plena da vontade de Deus literalmente em carne e osso, e os seus discípulos, especialmente os apóstolos, na medida em que vivessem em comunhão com Ele e uns com os outros seriam o testemunho vivo da vontade de Deus para o mundo. O que é o Novo Testamento, senão, uma coletânea das experiências vivenciadas pelos discípulos de Jesus no primeiro século? Jesus não deixou um livro porque preferiu deixar uma comunidade. E Ele mesmo disse que “as portas do inferno” não prevaleceriam contra a sua Igreja (Mt.16:18). Nisso vemos a importância de ser Igreja para podermos ser cristãos. Não existe cristianismo “Eu e Deus LTDA”. Se, por um lado, a salvação é questão pessoal e “cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm. 14:12), por outro, o projeto de Deus é coletivo e somos “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Peter 2:9).O discipulado cristão não é composto simplesmente de reuniões sociais, mas envolve necessariamente o estabelecimento e desenvolvimento de relações significativas uns com os outros e nossa com Deus. A Igreja não é um clube, mas é uma comunidade de irmãos que se conhecem, ama-se e trabalham pelo reino que veio, está vindo e virá. O aprendizado não é simplesmente teórico, mas vivencial. O apóstolo Paulo disse aos seus discípulos: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Co.11:1). Precisamos não só “conhecer sobre Deus”, mas principalmente “conhecer a Deus” em um nível pessoal e íntimo, isto é, precisamos deixá-lo participar de nossas vidas. Assim também, precisamos não só conhecer superficialmente uns aos outros, mas sim crescermos em intimidade, amor e serviço mútuos. Afinal, como o apóstolo João escreveu: “aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo. 4:20).

Você tem vivenciado a dimensão relacional do discipulado cristão? Em caso afirmativo, como? Em caso negativo, por quê?


3. O Discipulado Cristão e a Missão de Deus (1Pe. 2:9; At.1:6-9; 19:13-17; Mt. 17:14-18; 10:5-8; Jo. 15:2; 15:5)


Vários missiólogos têm reafirmado a famosa frase: “Não é que Deus tenha uma missão para a sua Igreja, mas sim que Ele tem uma Igreja para a sua missão”. O SENHOR é um Deus essencialmente missionário! Desde o início da criação Ele tem vindo ao encontro da humanidade para nos trazer de volta para uma comunhão plena com Ele e restabelecer a harmonia no mundo criado. Com a vinda do messias tornou-se claro que essa missão passa necessariamente pelo anúncio da obra salvadora realizada por Cristo na cruz do Calvário e pela proclamação do Senhorio de Jesus sobre todo o cosmos.Nós somos convidados pelo próprio Deus para ser agentes dessa missão de reconciliação universal (At.1:6-9). Nosso chamado para ser discípulos é inevitavelmente também um chamado para sermos testemunhas; nosso chamado para ser Igreja é necessariamente também um chamado para participarmos da missão confiada à Igreja. Jesus disse: “Qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos” (Mc. 8:38). Entretanto, nossa participação na missão da Igreja não deve ser tida como um mero dever, mas sim como um privilégio, pois realmente o é! Como está escrito: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo. 4:19). Nós temos um propósito na vida porque Ele nos deu uma missão a cumprir! (1 Pe. 2:9)No processo de discipulado cristão existem dois perigos opostos quanto à nossa participação missionária. O primeiro é nos engajarmos de qualquer maneira, isto é, sem um relacionamento pessoal e verdadeiro com o Senhor da missão (At. 19:13-17; Jo.15:5). O segundo é não nos engajarmos nunca (Jo.15:2, Mt.17:14-18). É interessante observarmos que Jesus, mesmo sabendo que os apóstolos ainda não estavam totalmente preparados (já que todos o abandonariam quando fosse preso) e que nem tinham entendido totalmente a natureza de sua missão (já que não sabiam que o messias precisaria morrer pelos pecados da humanidade e ressuscitar para reinar eternamente), enviou-os dois a dois em missão nas cidades próximas para curar, expulsar demônios, ressuscitar mortos e pregar as boas novas do reino (Mt.10:5-8). Assim também nós nunca estaremos totalmente preparados, no entanto, devemos ir, em dependência e submissão.

Você tem alguma idéia de como você pessoalmente pode contribuir com a missão que Deus confiou à Igreja? Em caso positivo, explique de forma sucinta.


4. O Discipulado e a Transformação


Por fim, lembremos mais uma vez que o objetivo último do discipulado cristão é a nossa santificação, isto é, a reconstrução da imagem de Cristo em nós. Como está escrito: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Co.3:18). “Transformação” é a palavra-chave aqui. Em essência, ser discípulo de Cristo Jesus é deixar-se cumprir em nós o que a Palavra de Deus nos pede em Rm. 12:1-2, isto é:


“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
(Romans 12:1-2)

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