sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Sermões e Estudos em Gênesis - IV. Babel

SERMÕES E ESTUDOS EM GÊNESIS

(IV). BABEL: O Projeto de Deus X O Projeto das Nações

1. Gênesis em Perspectiva, Recapitulação.
Uma possível divisão do livro de Gênesis seria Gn. 1-2 – Deus se revela através de sua criação; Gn. 3 – 11 – O homem se mostra através de sua rebelião; Gn. 12-50 – Deus inicia seu projeto de redenção. Como vocês já viram nas semanas anteriores, ao invés de tentar nos revelar em detalhes como o mundo foi criado (satisfazendo a mente do homem moderno) Gênesis começa nos revelando o caráter de Deus e seus propósitos para nós através de sua criação; depois, somos apresentados ao pecado (falência) humana em nas diversas dimensões: individual (Gn. 3), familiar (Gn. 4), de toda a raça humana (Gn. 6). Neste último episódio as Escrituras chagam a declarar a generalização do mal: “O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre para o mal” (Gn.6:5). Em todas essas dimensões vê-se sempre o julgamento divino ao lado de sua iniciativa graciosa e salvadora. Deus nunca desistiu de nós, apesar de nós! Mais do que isso, Ele nunca desistiu de seu projeto inicial para a totalidade de sua criação.
2. O Projeto Declarado e Retomado.
No ato da criação, o Senhor claramente estabeleceu o propósito (sentido) da vida humana. Em Gn.1:26-28 vemos os seguintes imperativos: “domine”, “sejam férteis”, “multipliquem-se”, “encham”, “subjuguem”. O Senhor nos criara para administrar a criação e para recriar a partir do já criado (cultura, ciências, linguagens, artes), tudo para sua glória e louvor. Desde o começo ficou claro que nós escolheríamos fazer tudo isso não com Deus, mas apesar dEle. Então, na época de Noé, a ira do Senhor foi derramada, julgando a humanidade de então, mas em virtude de sua graça, o mesmo projeto é retomado. Em Gn. 9: 1-7, depois que Noé e sua família saem da arca, vemos as mesmas ordens do início com a diferença de que agora não somente o reino vegetal era dado como alimento ao homem, mas também o reino animal. Vejam que no versículo 7 Deus enfatiza: “Mas vocês, sejam férteis e multipliquem-se; espalhem-se pela terra e proliferem nela”. E o que acontece agora? Bem... Aí entra em cena o episódio de hoje.
3. O Projeto Sempre Confrontado.
Gênesis 10 é o capítulo que contém o que é conhecido como Tábua das Origens das Nações, pois descreve a descendência de Noé e mostra como esta espalhou-se pela terra (portanto, a princípio, obedecendo a ordem do Senhor). Leiamos Gn. 10: 1-2, 5-6, 20-21, 31-32.
Agora... como explicar o fato de que esse capítulo enfatiza repedidas vezes que passaram a haver diferentes clãs, com diferentes línguas, em diferentes territórios e no primeiro versículo do capítulo seguinte (11), tenhamos a afirmação: “No mundo todo havia apenas uma só língua, um só modo de falar”? O que acontecera com aquela diversidade do capítulo 10? Ora, sem precisar assumir uma ordem cronológica exata para o livro de Gênesis, tal contraste radical deveria no mínimo chamar bastante a nossa atenção. Bem... parece-nos que aqui estamos diante do surgimento de um império totalitário, talvez o primeiro da história, já que uma das características de um império é a uniformização da linguagem e dos costumes e a extinção da diversidade e criatividade. E no fim das contas, o que é a história da “Torre de Babel” senão uma estória do orgulho, ganância, vaidade e prepotência humanas?
Os nossos ancestrais tinham recebido uma missão do Senhor e esta era a de “encher a terra”, mas, ao contrário, preferiram dizer: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn.11:4). Ao invés da multiplicação, preferiram o inchamento; ao invés de aceitarem o desafio para ir, preferiram o comodismo do permanecer, ao invés do chamado de Deus para fazer história com suas próprias vidas, preferiram o comodismo de fechar a história em razão de seu próprio egoísmo. Não quiseram fazer a vida bela, mas tentaram fazer seus próprios nomes famosos. Tudo isso desagradou ao Senhor e por isso o Senhor os julgou assim como tinha julgado a Adão, Eva, Caim e Noé antes deles. Só que agora o Senhor os julgou “confundindo suas línguas”. O que era para ter acontecido de modo natural (a diversificação ainda maior das línguas), acabou tendo que ser feito por intervenção divina sob a forma de julgamento (a confusão das línguas). O julgamento veio para que o plano de Deus fosse cumprido.
4. A Bíblia como a Estória da Falência dos Reinos desse Mundo.
A Bíblia conta a estória que Deus está escrevendo através da história humana, isto é, da nossa história. Existem várias maneiras possíveis de se olhar para essa estória de amor de Deus da qual fazemos parte como protagonistas. Podemos olhar para a História Universal como “a história da salvação da humanidade”, “a história da procura de um rei digno de governar sobre a criação divina”, “a história das alianças de Deus com o homem”, dentre outras opções. Todas essas formas estão corretas e são explicações complementares válidas, contanto que Cristo seja colocado no centro, como sentido último de toda a trama cósmica. Como está escrito Ele é “o Alfa e o Ômega” (Ap. 1:8). Outra possibilidade de interpretação da história é uma que tem muito haver com o episódio da Torre de Babel. Podemos interpretar a história humana como sendo o palco utilizado pelo SENHOR para demonstrar que todos os impérios e governos humanos são passageiros, limitados e injustos. Fazendo isso Deus nos prepara para encararmos a verdade já anunciada no livro de Apocalipse, isto é, a de que nenhum ser humano com exceção de um foi achado digno de julgar entre as nações e reinar sobre elas. Em Ap.5:1-14 vemos que o apóstolo João chorou prostrado em sua visão apocalíptica ao ver que não havia ninguém digno de julgar a história, mas um anjo o consola chamando sua atenção para “o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi” que “venceu para abrir o livro” (5:5).
Enfim, é como se Deus deixasse que nações e impérios surgissem e dominassem por um tempo, permitindo que façam o seu melhor para administrarem a justiça e a paz para a honra e glória dEle. Depois de algum tempo, então, como todas têm falhado em sua missão, Deus as julga por seus próprios pecados e deixa mais claro ainda que só o seu Reino permanecerá no final, pois só Ele é justo, e Cristo é e sempre foi o único Rei digno de reinar sobre a criação divina. Todos os reis das nações têm reinado para sua própria glória em diferentes níveis. Só Jesus reina já e reinará plenamente somente para a glória de Deus e para o bem estar perfeito dos seus irmãos e súditos. Por enquanto, como dizem as Escrituras, o Senhor Jesus está “sentado no trono, à destra de Deus, até que todos os seus inimigos sejam postos por estrado de seus pés” (Sl. 110:1-2 e Hb. 1:13, 10:13). E como está escrito, “Bem-aventurados os humildes de espírito porque deles é o reino dos céus” (Mt.5:3).
5. Aplicação.
· Devemos assumir o nosso lugar como Igreja nessa grande trama cósmica, nos rendendo ao Senhorio de Cristo de uma vez por todas.
· Devemos nos arrepender de nossos projetos imperialistas nas várias áreas das nossas vidas e abraçar o projeto divino da multiplicação, serviço e compartilhamento.
· Devemos nos arrepender do nosso imobilismo e inércia e perguntar ao Senhor como podemos ser úteis no seu reino.

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