quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Esboços da série de pregações no livro de Gênesis - Intro

SERMÕES E ESTUDOS EM GÊNESIS

INTRODUÇÃO

Há quem chega ao livro de Gênesis com uma lista de perguntas, tipo: “O que foi que Deus andou fazendo antes da criação do universo? Será que a criação se deu em seis dias mesmo (lembramos que no sétimo Deus descansou)”, ou já que “um dia é como mil anos para o Senhor” (2 Pe. 3:8) deveríamos pensar em termos de milhares de anos ou até milênios? Por que “No princípio, criou Deus os céus e a terra” se Ele já sabia que ia dar errado com Adão e Eva? É possível conciliar a teoria evolucionista de Charles Darwin com os relatos bíblicos da criação? E essa história da serpente falante? Etc.
Ora, embora nós tenhamos interesse em responder tais perguntas, é importante entender que na maioria das vezes, Gênesis não se preocupa com elas, nem se interessa em respondê-las. Não adianta tratar o livro de Gênesis como se fosse uma enciclopédia ou uma obra de teologia sistemática cuidadosamente organizada em tópicos para tirar todas as nossas possíveis dúvidas sobre as origens do mundo. Não é assim, e não é por aí...
Mas, nesse caso, seria Gênesis irrelevante hoje em dia, uma mera relíquia religiosa da antigüidade? Como diria o apóstolo Paulo – de jeito nenhum! O livro de Gênesis, como literatura sagrada divinamente inspirada tem muito a dizer sobre Deus, a humanidade e o mundo. É um livro de caráter teológico que fala poderosamente para a realidade da nossa existência - hoje.
A minha preocupação é simplesmente deixar o texto bíblico falar nos seus termos, ao invés de indagá-lo referentes assuntos sobre os quais ele mantém o silêncio. Estou interessado sobre o que Gênesis afirma sobre Deus e os seres humanos, e embora toquemos em questões polêmicas, não pretendo perder tempo no labirinto das especulações quanto àquilo que Gênesis não aborda e não afirma.
Creio que esse tipo de abordagem – a que reconhece que o livro de Gênesis tende a levantar perguntas próprias ao invés de responder as nossas – é a mais honesta, e a que leva o texto bíblico a sério. Ao invés de sujeitarmos Gênesis à nossa agenda, às nossas preocupações, e aos nossos interesses particulares, nos sujeitaremos a Gênesis para que Deus fale aos nossos corações através do livro, sobre a Sua agenda, as Suas preocupações, e os Seus interesses.


(1). NO PRINCÍPIO: Deus, o mundo, e o ser humano
Gênesis 1 – 2:3 e Gênesis 2:4ss. tratam da criação do universo e da humanidade. Podem ser considerados como dois relatos sobre o mesmo evento (a criação), e são complementares.
O criacionismo entende Gênesis 1 ao pé da letra, de forma literal: que o mundo foi criado em uma semana, e que a origem do universo é mais recente do que a pesquisa da paleontologia sugere. Existem, porém, outras interpretações do relato bíblico da criação, e teólogos, como John Stott (no seu comentário sobre “Romanos”), mostram como a linguagem teológica e simbólica de Gênesis pode ser compatível em muitos aspectos com a pesquisa científica atual acerca das origens do universo e do ser humano.
Esse debate não nos concerne aqui. O que nos interessa são os princípios que o livro de Gênesis traz à tona: organizemos esses princípios em três categorias, Deus, o mundo, e o ser humano.

DEUS
A Bíblia (e Gênesis 1) começa com (e na) presença dEle. Deus não se interessa em nos informar sobre as suas atividades até então, nem comenta sobre a Sua origem. Na verdade, Ele nem revela seu nome (isso acontece somente em Êxodo 3 no episódio da sarça ardente). Deus é Deus e tem todo direito de se revelar como Ele quiser, quando Ele quiser e com quem Ele quiser. Porém, aprendemos certas coisas sobre Ele através da história da criação. Aprendemos, por exemplo, que Ele é o único Deus. Diferente de relatos de outras culturas antigas da região, não existe um panteão de deuses, e o sol e a lua não têm personalidade própria (1:16), não são “deuses”, são apenas luzeiros criados por Deus. O monoteísmo (crença em um só Deus) explícito nos Dez Mandamentos e salientado no livro do profeta Isaías está presente também na primeira página da Bíblia.
O cristianismo acredita que existe um só Deus, mas que esse Deus é três pessoas em um (Pai, Filho e Espírito Santo). Embora não esteja explícito, podemos detectar a ação de Deus como Santíssima Trindade na narrativa bíblica da criação. Conforme Gênesis 1:2 o ruah (que pode ser traduzido como “vento” ou “espírito”) pairava sobre as águas. Muitos comentaristas cristãos entendem que essa é uma referência à participação do Espírito Santo da criação. Do mesmo modo, o “façamos” de Gn. 1:26 parece apontar para a pluralidade do ser divino, e já que o Novo Testamento sustenta a participação de Jesus no ato da criação (cf. Cl. 1:15 – 17), faz sentido interpretá-lo dessa forma.
Conforme o teólogo John Goldingay, o Antigo Testamento oferece uma série de imagens para entender como Deus formou o mundo. Ele agiu como executivo, como rei, como mãe dando à luz, e como artista brilhante. Ficou muito satisfeito com a sua obra, pois, “viu que era bom”.

O MUNDO
O livro de Gênesis deixa absolutamente claro que o mundo, criado do nada por Deus, no seu estado original foi perfeito. O número sete, símbolo da perfeição e plenitude no pensamento hebráico domina o primeiro capítulo de Gênesis. Por exemplo, no original, a primeira sentença de Gênesis 1 contém exatamente sete palavras, e a segunda sentença quatorze (2 x 7). A palavra “Deus” ocorre 35 vezes (5 x 7), “terra” 21 vezes (3 x 7), e as frases “E assim se fez” e “viu Deus que era bom” sete vezes.
Diferente do pensamento platônico dos gregos, a bíblia valoriza o mundo material e físico. O ser humano é feito “do pó da terra” (2:7), fato que indica uma estrita ligação entre o ser humano e o seu ambiente. O homem depende do seu ambiente para (sobre)viver, mas, ao mesmo tempo o ambiente, poderíamos dizer meio-ambiente, está na dependência do homem, já que ele tem que “cultivar” e “guardar” o jardim (2:15).
Frente à atual depredação do meio-ambiente, faz bem lembrar que parte do propósito original de Deus para o ser humano era que ele cuidasse da terra. Gênesis 1 e 2 têm tudo a ver com questões ecológicas, e temas atuais, tais como o aquecimento global e o desmatamento descontrolado das nossas florestas. Infelizmente, temos negligenciado nossas responsabilidades entregues desde a criação.

O SER HUMANO
Criados “na imagem e semelhança” de Deus, tanto o homem como a mulher são criaturas especiais e sagradas. Recebem de Deus “o fôlego da vida” (2:7), e possuem almas. Hoje a vida humana é barateada, mas Gênesis urge, pelo menos implicitamente, que a vida humana seja valorizada e preservada. Todo discurso a favor dos direitos humanos encontra bastante apoio no início da Palavra de Deus.
O casal humano parece em pé de igualdade: são parceiros no trabalho de procriação (e do governo da terra). Por enquanto, a relação entre os dois, e a relação do casal com Deus está harmoniosa. Se trata sim, de um verdadeiro paraíso... (continua)

Rev. Marcus Throup

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