sexta-feira, 22 de agosto de 2008

SERMÕES E ESTUDOS EM GÊNESIS

(III). O DILÚVIO: O “basta” de Deus e um toque de graça

Tradicionalmente, o dilúvio tem sido interpretado como evento cataclísmico que consumiu o planeta inteiro. Outra interpretação é que teria consumido o mundo do Antigo Oriente Médio, uma vasta região, mas, não todo o planeta propriamente dito. Essa última interpretação parece mais consistente com as descobertas da arqueologia, e a Bíblia Genebra lembra que a Bíblia é capaz de utilizar uma linguagem absoluta para descrever acontecimentos relativos. Por outro lado, é interessante observar que existem relatos de um dilúvio de proporções extraordinárias em todas as antigas culturas, o que poderia apoiar a visão tradicional.
Independente da interpretação que adotamos, está evidente que o dilúvio representou um ato de julgamento divino em grande escala: é o “basta” de Deus à iniqüidade primordial. Gênesis 6 afirma que Deus “se arrependeu” de ter feito o homem – não é que Deus tenha mudado de idéia quanto à validade intrínseca do projeto da criação [sobre a imutabilidade da vontade divina veja os comentários na Bíblia Genebra] – antes, essa linguagem nos comunica a profunda tristeza e indignação santa que Deus sente ao ver “o mau desígnio” do coração do homem, e de se deparar com o fato de que a terra toda estava “cheia de violência” (v.11 e 13). A referência aos “filhos de Deus” (anjos) possuindo as filhas dos homens (6:4) também aponta para um crescimento do pecado, onde atinge certa dimensão sobrenatural.
Mas, será que Deus na Sua onisciência não previa essa situação toda? Essa não é uma pergunta que a Bíblia faz, (entretanto, poderíamos afirmar que “sim” Deus previa isso, mas, mesmo assim, não desistiu do ser humano). O texto bíblico nos apresenta apenas o lamento do Senhor ao ver a criatura que foi criada com especial potencial criativo, andar nos caminhos da destruição. É uma grande ironia...
Noé, porém, “achou graça perante o Senhor” (6:8) e é descrito como homem “justo” e “íntegro” (6:9). Segundo o ensino do Novo Testamento, (2 Pe 2:5) Noé era um “pregador da justiça”, a implicação sendo que ele teria avisado à sua geração do julgamento de Deus através da sua pregação. O relato de Gênesis não fala disso, se limitando a reportar a obediência que Noé mostra perante Deus, levando Sua palavra a sério e se organizando com sua família para a vida na arca.
A arca (hebraico “baú”), essencialmente uma enorme caixa flutuante, com três andares, era bem prática, construída apenas para abrigar os oito seres humanos e as “amostra grátis” das espécies que tinham que ser preservadas. Mesmo rude, a arca era um sinal da provisão generosa do Senhor, cujo toque de graça está evidente no detalhe dEle ter fechado a porta da arca (7:16). No meio ao julgamento, a misericórdia e a graça de Deus se manifestam – a humanidade terá outra chance através de Noé – Deus “lembrou de Noé” (8:1, isto é, contemplou favoravelmente, cuidou) e dispersa a água com vento.
Conforme Gênesis 6:18, Deus estabeleceria a Sua aliança com Noé, e quando a pomba, é solta pela segunda vez (observando duas vezes um espaço de sete dias, sugerindo que Noé tinha observado o sábado?), não voltou mais, estava na hora do desembarque e da ratificação da aliança, pois a terra já estava seca.
Seria fácil, ao retornar a terra, nesse momento de júbilo, se esquecer de Deus, mas, não é assim no caso de Noé, pois ele resolve agradecer ao Senhor antes de qualquer coisa. Em Gênesis 8:20 – 22, constrói um altar onde oferece sacrifícios a Deus (para esse propósito – e para o consumo - havia levado sete pares dos animais “limpos”), e Deus, agradado pelo sacrifício, promete que jamais castigaria a terra com tamanha força. Deus abençoa Noé e seus filhos (9:1), e confirma a aliança com eles e a sua descendência e com toda a ordem da criação, a aliança tendo como sinal o arco-íris (9:8 – 17).
A história de Noé, por um lado mostra a seriedade com que Deus leva a maldade do homem na terra. Nós também precisamos levar a sério o pecado, principalmente os nossos pecados individuais, adotando uma atitude “tolerância zero” com eles, e voltando a pedir perdão a Deus, confiantes na eficácia do sacrifício de Jesus por nós. Esse primeiro grande julgamento aponta, sem dúvida, para o juízo final.
Por outro lado, com a primeira menção na Bíblia da palavra “aliança”, através da história de Noé, nós vemos o toque salvador de Deus e somos lembrados do fato que as promessas do Senhor sempre se cumprem. Assim como a nova humanidade recebeu uma nova chance através de Noé, em Cristo, pela Sua graça e misericórdia, Deus nos concede não apenas uma nova chance, mas, uma vida nova com novas possibilidades e novos e eternos horizontes.

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